sábado, 23 novembro 2024
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Covid-19, o motivo do isolamento.

Oi pessoas! Até sábado o texto estava quase pronto. Contudo, tive que mudá-lo
pois a situação está piorando muito rápido. A primeira coisa que devo afirmar é… A
situação é gravíssima. Pode até parecer que não, pois nossos números estão em uma
fase anterior em relação aos surtos de Itália e China. Ou seja, para sabermos o nosso
futuro devemos analisar o que ocorreu nos outros países. Por isso nesse texto vou
colocar em números a nossa perspectiva. E mostrar a partir disso o motivo de ser tão
importante FICAR EM CASA. E quando digo ficar em casa é não botar o pé na rua em
hipótese alguma.
Outra coisa que devo comentar são as medidas que fazem o sucesso, as que
podem causar o colapso frente ao SARS-Cov2 (o nome oficial do vírus), quais delas o
Brasil está tomando e qual o motivo das diferenças. Outra questão a ser colocada em
texto é as possibilidades de cura. O que está sendo pesquisado. E o que podemos
esperar para os próximos 18 meses. Ao final terá uma lista de mídias que serviram de
base, recomendo uma “olhada” nelas para entender o que estou dizendo. Em relação a
isso, devo adiantar nada, realmente nada, comprovadamente, funciona para a covid-19.
Vi em alguns lugares que o vírus fica instalado por quatro dias na garganta e por isso
um gargarejo com vinagre “limparia” o vírus. Isso não é verdade, esqueça, não tente
nada disso para evitar a covid-19.
Dito isso vamos aos números. Até agora 234.073 casos foram registrados no
mundo inteiro. A maior parte deles 104.591 casos sendo notificados na Europa. Ou seja,
a partir de agora o epicentro da epidemia passa a ser a Europa. No contexto europeu
os países em situações extremas são a Itália com 41.035 casos e a Espanha com
17.147. Contudo, o Reino Unido, por uma decisão equivocada no começo de seu surto,
pode sofrer com um crescimento abrupto ainda nas próximas semana. Em relação as
mortes, a Itália é, agora, o país com maior taxa de letalidade (8,3%) com 3.407 mortes,
superando assim, a China.
Por outro lado, Coréia do Sul, Japão e Austrália são países que conseguiram
desacelerar o contágio. Tiveram seus primeiros casos quase ao mesmo tempo e tem
respectivamente 8.652, 950 e 709 casos. Os primeiros casos desses países foram ao
final de janeiro, ou seja, 2 meses. O Brasil já notifica 977 casos e 11 mortes, portanto o
nosso número de casos, em 3 semanas, já superou os números de Japão e Austrália.
Mas para conhecer a real situação do Brasil devemos olhar também para os
intervalos de tempo em que esse contágio ocorre nos exemplos acima. Para a
construção das tabelas e dos gráficos a seguir, eu utilizei os dados de notificação das
secretarias de saúde bem como os números da Organização Mundial da Saúde. Esse
dado de contágio X tempo é importante por que dá uma noção de velocidade, ou seja,
da taxa de contágio. Essa noção é passada, principalmente pela inclinação de “subida”
da reta. Quanto mais inclinada, mais veloz. Vamos lá:

Esse gráfico pode ser muito confuso. Mas há alguns pontos que devo chamar
atenção. Primeiro, a flecha vermelha mostra a progressão de casos no Brasil. Aqui
podemos notar que a inclinação da curva é parecida com a que encontramos na China
e na Itália. Além disso, segundo os dados, o crescimento do número de casos, aqui,
demorou menos no que observamos em outros países. E isso é preocupante, pois
mostra que se não houver medidas preventivas (quaisquer sejam elas) chegaremos
muito mais rápido em patamares de casos registrados semelhantes a China e Itália. E
isso é ruim por que, uma vez que isso ocorra, pela quantidade de habitantes brasileiros
(a nossa população é quatro vezes maior do que a italiana) com certeza absoluta não
teremos vagas nos hospitais para todos os doentes graves. E então, além de terem
mortos pelo SARS-Cov2, vamos ter mortos por que os hospitais estão lotados. Isto é,
vítimas de acidentes, de infartos ou derrames, ou ainda vítimas da violência urbana não
terão suas vagas e então morrerão na espera. É isso que está ocorrendo hoje, na Itália,
por exemplo.
Na flecha preta vemos podemos observar o dia em que os números dos EUA
encontram e ultrapassam os da Coréia do Sul. Além disso, podemos ver que as curvas
de progressão de menor inclinação são da Austrália e do Japão. Quando for discutido
as políticas frente a pandemia, voltaremos a esse assunto. Outro fato interessante é
mostrado pelo círculo preto. Observem que o maior aumento de casos na China e na
Itália começaram no mesmo intervalo de tempo (levando em consideração o primeiro
Figura 1.A progressão dos casos nos países selecionados.
dia de registro pela OMS). Isto é, a progressão com maior velocidade se iniciou,
aproximadamente, no vigésimo dia. Para deixar clara as inclinações, vamos pensar nos
gráficos a seguir.

 

Esses gráficos nada mais são do que desmembramentos do primeiro gráfico. Fiz
isso para que ficasse evidente a situação do Brasil. No gráfico A podemos observar que
há diferentes tendências na progressão da doença, em alguns países essa é mais lenta
e em outros a progressão é mais rápida. A curva menos inclinada, dentre os países
escolhidos, é a do Japão. Isso quer dizer que se considerarmos o número de novos
casos, eles serão mais uniformes e menores a cada dia. Tal estratégia faz com que haja
suporte a vida de qualquer pessoa afligida por sintomas graves da Covid-19 uma vez
que o número de leitos, dificilmente, irá ser ultrapassado. Quando analisamos o gráfico,
podemos comparar a progressão nos casos de Brasil, China e Itália. A China foi
A
B C
Figura 2. Comparativo da inclinação das curvas de progressão. Período avaliado: 31/12/2019 a 20/03/2020. Fonte: Organização
Mundial da Saúde.
escolhida por ter entrado na fase de recuperação, ou seja, a ascensão do nº de casos
está próxima da estabilização. Isso nos dá uma ideia do que podemos esperar. E a Itália
por que é o pior caso de manejo e contenção da crise, o que não podemos admitir. Já
o gráfico C mostra o quão distante estamos de países que adotaram posturas de
sucesso. Na verdade, com o que estamos fazendo, temos uma perspectiva ainda pior
do que as realidades de China e Itália. Para concluir isso, vamos analisar quanto tempo
demorou para cada um dos países alcançar mil casos confirmados. Vamos tomar por
base os gráficos A, B e C da figura 2. A Austrália chegou próximo a mil casos com
aproximadamente 55 dias desde a confirmação do primeiro caso. O Japão, por sua, vez
chegou 60 dias, a Coréia em 45, aproximadamente, a China em 25 dias, a Itália (o pior
dos casos) um mês depois do seu primeiro caso teve confirmado o seu 1000º caso. E o
Brasil em apenas 20 dias alcançou essa marca. Isto é, estamos com o pior início dentre
todos os países analisados aqui. Deu para entender a gravidade? Estamos em uma
situação inicial pior do que o pior dos casos analisados. Mais um pouco de números.
Para deixar ainda mais claro, vamos analisar agora os números de novos casos
de China e Itália.

Aqui nesse gráfico podemos observar que o número de casos novos registrados
por dia é menor para a China. Além disso, esses números são melhor distribuídos
(menor diferença entre os menores e os maiores números e maior intervalo de infecção)
para a China. E por que isso ocorre nesses casos? Siga a flecha vermelha: ela marca o
Figura 3. Novos casos na China e na Itália. As flechas vermelhas marcam o dia de instituição da quarentena.
Período avaliado: 31/12/2019 a 20/03/2020. Fonte: Organização Mundial da Saúde.
início da quarentena. Enquanto a quarentena chinesa se inicia com centenas de casos
(dia 21/01), a quarentena italiana começou somente quando os casos já se acumulavam
aos milhares. Agora, devido a política mau escolhida, a Itália quebra recordes de novos
casos diariamente. Em decorrência disso, outros números se acumulam: o de mortos.

Nesse gráfico podemos ver que a estratégia de supressão de circulação tem
seus efeitos no número de mortes. Enquanto na China temos uma distribuição com
menor número de mortes, na Itália temos pior situação, com número de mortes
ultrapassando os chineses. Para um panorama geral do número de mortes, preparei
esse gráfico aqui

Como podemos observar, os números de mortes na Itália já superam as mortes
chinesas. A situação do Brasil é grave: a velocidade de progressão das mortes é
semelhante ao encontra na China (podemos ver uma sobreposição nas curvas). Os
países com melhor situação até aqui ainda são Japão, Coréia do Sul e Austrália. Até
aqui, o texto teve a missão de deixar claro o tamanho do nosso problema. Além disso,
eu acho que ficou claro como o início do período de quarentena pode interferir nos
números e dessa forma como a própria quarentena deve ser parte da solução. Mas
mesmo assim, parece haver outras medidas mais eficazes do que a quarentena uma
vez que Austrália, Japão e Coréia do Sul parecem ter melhores resultados do que a
China.
Vamos analisar primeiro o caso do Japão. Aqui podíamos fazer um estudo da
sociedade japonesa e de sua organização e noção de coletividade. Porém eu não estou
apto a isso, seria muito bom que houvesse um sociólogo animado para isso. O Japão
está há menos de seis meses da Olímpiada e por isso tem maior preocupação. As
estratégias foram divididas em fases: contenção, prevenção e tratamento e mitigação.
Na primeira fase, e apenas 10 dias após o primeiro caso (01/02/2020) o governo japonês
já tinha repatriado os japoneses de Wuhan e impedido a chegada de visitantes vindo de
Hubei. Na fase de prevenção e tratamento, o governo evitou a dispersão da doença por
conter em poucos núcleos os infectados. Isso foi feito a partir de testes e rastreamento
dos casos positivos. Esses testes primeiramente eram restritos somente aos visitantes
de Hubei, mais tarde, ainda em fevereiro, isso foi ampliado aos casos graves, até o dia
13 de março essa política levou a cabo apenas 10 mil testes. Na última fase, a mitigação,
após 20 de fevereiro as grandes aglomerações haviam sido proibidas. O fato de ser um
arquipélago, provavelmente, tenha auxiliado no combate a covid-19. Aqui há um ponto
controverso na estratégia o número de testes: especialistas afirmam que, quanto mais
testes melhor é a contenção de novos casos.
Esse fato é comprovado pela Coréia. Até dia 11 de março, a Coréia teria
realizado cerca de 220 mil testes. Por isso, enquanto a estratégia japonesa baseia-se
na contenção e bloqueio de novos contágios, a Coréia apostou na busca ativa dos
infectados, além de rastrear possíveis novos casos através de aplicativos de celular.
Essa estratégia possui uma vantagem em relação à japonesa. A precisão das
informações. Quanto maior o número de testes, mais precisamente você localiza os
possíveis infectados e por isso dificilmente há casos “invisíveis”. Com poucos testes, e
escolhendo uma população de infectados para testar (geralmente os casos graves) há
um grande contingente de pessoas que possuem os sintomas, mas não são enxergados
oficialmente. Sendo assim, não há como aplicar medidas restritivas localizadas,
aumentando a possibilidade de contágio e a defasagem dos números. Ou seja, quando
um teste der positivo, aqui no Brasil, pode ter certeza que há muito mais casos de
infectados circulando. E veja, o teste é medida complementar a restrição e isolamento.
Nas duas estratégias isolar os doentes em suas casas foi o básico para o sucesso. E é
justamente o que não foi feito pelo governo italiano.
A Austrália parece ter adotado uma postura intermediária. A restrição de
visitantes vindo de Hubei e repatriação de australianos em terras chinesas com posterior
quarentena de 14 dias foram decisões tomadas com antecedência. Apenas com 6 dias
do primeiro caso, os aeroportos já estavam fechados para pessoas vindas de Hubei.
Além disso, até agora foram feitos 123 mil testes. Tais medidas, alcançaram certa
efetividade, uma vez que a Austrália demorou cerca de 60 dias para alcançar o seu
milésimo caso e até agora, segundo dados do próprio governo, 20 casos de internação
em UTI e apenas 7 mortes.
Em minha conclusão, parece haver três fatores que influenciem no sucesso do
combate: decisões antecipadas no início do surto, isolamento de possíveis infectados,
testes aos montes para rastrear e conter os focos de contágio. E disso o que o Brasil
está fazendo?
Parece haver um enfoque em aumentar a capacidade de atendimento, uma vez
que o governo federal vai injetar 10 bilhões de reais e reabrirá 5800 vagas do programa
mais médicos. Embora tenha lançado uma portaria obrigando infectados e pessoas em
contato a permanecerem em quarentena por tempo de 14 dias, o governo federal ainda
não fechou aeroportos e nem tomou outras medidas mais restritivas até esse momento.
Isso deverá mudar com o tempo. Em relação a isso alguns governos estaduais fecharam
estabelecimentos de ensino, restringiram, a trabalhos domiciliares, funcionários com
mais de 60 anos ou com condições pré-estabelecidas tais como: diabetes e hipertensão.
E a partir dessa terça-feira (24/03) haverá o fechamento de estabelecimentos comerciais
aqui em São Paulo. De qualquer forma se analisarmos, essas medidas e compararmos
com números e estratégias dos países analisados nesse artigo, pode-se concluir que
estamos fazendo muito menos do desejado para conter tal surto. O resultado de tal
frouxidão é o aumento, comparável ao da Itália, que estamos experimentando. Além
disso, até o presente momento, somente casos graves estão sendo testados, como já
vimos, isso cria uma defasagem na detecção de casos positivos e dá abertura para o
aumento de contágio. A Fiocruz produzirá, até o início de abril 40 mil testes. Já foram
entregues 18,5 mil testes. Se somarmos os dois lotes, 60 mil testes e dividirmos pelo
número de habitantes do Brasil, isso dá 0,3 testes a cada 1000 habitantes, o índice da
Coréia chega a 2,3 testes a cada 1000 habitantes. Ou seja, o Brasil estará muito aquém
do ideal.
Por tudo apresentado aqui, é possível afirmar que as medidas tomadas pelos
governos brasileiros (federais ou estaduais) estão muito abaixo do esperado, e por isso
a situação brasileira é preocupante. Outra lição deixada por Coréia, Japão e China é
que quanto mais cedo as medidas de restrição são implementadas em menor tempo o
país se recupera. Um atraso nas decisões, leva a um número bem maior de infectados
e por isso um maior tempo de recuperação. Não posso falar em estimativas, porém o
próprio ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou, em coletiva, que como
estamos agora, a recuperação só será vislumbrada a partir de agosto. Ou seja, façamos
a nossa parte agora para não estender a tragédia por mais tempo.

Saiba mais:
Átlia Iamarino, virologista, falando sobre as perspectivas brasileiras, se estiver muito na pilha
deixe para assistir outra hora:


Os dados que utilizei para os gráficos:
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/20/ultimas-noticias-decoronavirus-de-20-de-marco.ghtml
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/19/casos-de-coronavirus-nobrasil-em-19-de-marco.ghtml
Estratégias da China, Coréia, Japão, Austrália e Brasil:
https://globalbiodefense.com/2020/03/16/united-states-lessons-learned-covid-19-pandemicresponse-south-korea-japan-observations-hyunjung-kim-gmu-biodefense/
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-51919935
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51889721

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