domingo, 17 novembro 2024
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A informação faz a diferença

Oi Pessoas.
No texto passado, escrevi sobre como a decisão de não vacinar filhos pode ter influência sobre a saúde pública aumentando a possibilidade de surtos de doenças que estão sob controle. Ou seja, como decisões individuais podem ter impacto na sociedade. Como vacinas e a importância da vacinação são temas que “sofrem” com a desinformação, acho importante ainda falar mais um pouco sobre isso. Aqui, nesse texto, escreverei mais sobre vacinas.
Quando criança, pelo menos, um sábado por ano, eu e meus pais acordávamos cedinho (coisa que nunca gostei muito) para irmos ao posto de saúde próximo de casa. Caminhávamos por uns 30 minutos e quando chegávamos já havia se formado uma fila imensa. Eu me perguntava o porquê daquilo ser tão importante? Eu pensava: “tenho que acordar cedo, andar muito e enfrentar uma fila, para tomar uma agulhada (quando criança tinha muito medo de agulhas). Para quê tudo isso?”. Mesmo a contra gosto, eu estava lá (bem da verdade nunca tive escolha). E embora minha mãe sempre falasse da vez que teve reação adversa por conta de uma vacina, meus pais sempre me vacinaram, nunca pularam uma única dose, minha carteira de vacinação esteve sempre completa.

Já na faculdade, no ano de 2005, houve um pequeno surto de caxumba na Unicamp. A solução: uma campanha interna de vacinação. Participei mesmo que já tivesse as duas doses obrigatórias da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). Mais alguns anos adiante foi preciso tomar a vacina contra febre amarela e novamente a antitetânica, essa última com a última dose prevista para 2025. Lendo mais sobre as vacinas, tenho um arrependimento: nunca tomei a vacina contra gripe. Erro que vou remediar tão logo que eu possa. Essa é a minha história com as vacinas e tenho certeza que parte dela é semelhante para algumas pessoas da minha idade.
Quando criança não tinha muita noção do motivo de passar por tudo aquilo. Além disso, por sempre ouvir a história da minha mãe, tinha muito medo de vacinas. E depois de ler um pouco sobre hesitação vacinal vejo que as pessoas, em geral, demonstram ter as mesmas dúvidas que eu tinha quando criança: Como as vacinas funcionam? Como posso ter certeza de que elas não fazem mal? Por que devemos participar das campanhas de vacinação? Todas essas dúvidas somadas ao medo dos efeitos adversos, à crença em informações passadas por pessoas de confiança e ao desconhecimento, tem como consequência a desistência da adesão à vacinação.
Com o último texto, espero ter auxiliado na última questão. Resumindo, devemos vacinar pois através das vacinas protegemos os nossos filhos e a nossa comunidade contra doenças que podem ser letais, principalmente em crianças e idosos. A partir daqui, tentarei responder algumas das outras perguntas. Embora essas respostas estejam baseadas no que aprendi na graduação de biologia e em alguns estudos, ainda há muito para saber, se quiser descobrir mais terá que procurar por você mesmo.
Vacina é um termo utilizado para um conjunto de medicamentos constituídos por material biológico afim de prevenir algumas doenças. Tais materiais biológicos podem ser: substâncias produzidas pelos causadores dessas doenças, por esses agentes inativados (mortos) ou atenuados (enfraquecidos). Dependendo da vacina, um desses materiais é usado. A injeção desses materiais tem por objetivo ensinar as nossas células de defesa a reconhecer os agentes invasores. É parecido com o que é feito com o adestramento de cães farejadores. Nós os abastecemos com estímulos e a partir deles, tantos os cães quanto as nossas células de defesa conseguirão captar sinais no ambiente. No caso das nossas células de defesa, tais estímulos levarão a produção de anticorpos que auxiliarão no combate a bactérias e vírus.
Embora a primeira vacina tenha sido desenvolvida no século XVIII, a ideia de utilizar os próprios causadores como cura é bem mais antiga, pelo menos 800 anos mais antiga. Chineses do século X já utilizavam materiais dos doentes de varíola para imunizar outras pessoas. A história europeia da imunização tem seu ápice, como disse, no século XVIII quando o médico Edward Jenner, imunizou uma criança de oito anos contra a varíola. Jenner observou que mulheres que ordenhavam vacas e tinham contraído uma variedade bovina da varíola, estavam imunes a variedade humana. Então Jenner, numa postura condenável eticamente, coletou pus das feridas dessas mulheres e inoculou em um garoto de oito anos. Alguns dias depois a esse procedimento, Jenner injetou no garoto suor de doentes de varíola. Resultado: o garoto não contraiu a doença. Antes de Jenner, aproximadamente 400 mil europeus morriam, anualmente, com varíola, hoje ela está erradicada da face da Terra.

Desde então inúmeras vacinas tem sido desenvolvidas contra as mais variadas doenças. No catálogo do SUS, por exemplo, temos 27 vacinas disponíveis. Enquanto nos séculos XVIII e XIX tivemos cinco vacinas desenvolvidas (varíola, febre tifoide, tuberculose, raiva e praga) o “boom” do desenvolvimento das vacinas ocorreu no século XX, com as vacinas contra a poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, gripe, meningite, febre amarela, entre outras. Mas nesse século XXI ainda desenvolvemos algumas vacinas.
Um estudo de 2009 publicado em uma revista especializada mostra que o desenvolvimento de uma vacina pode demorar uma década e custar aproximadamente 800 milhões de dólares. Tais números são compatíveis com a complexidade das pesquisas envolvidas no desenvolvimento de uma vacina. Antes da sua implementação no mercado, a vacina passa por testes pré-clínicos em animais de laboratório, testes clínicos que variam de poucas pessoas, na primeira fase de testes clínicos até milhares de pessoas na última fase de testes. Mas mesmo antes disso, há muita pesquisa básica, desenvolvida em sua maioria em instituições públicas, para esclarecer todos os aspectos da doença (sintomas, órgãos e células afetadas, agente causador, etc.).
Em todas as fases pré-clínica e clínica do desenvolvimento da vacina, a sua eficácia e seus efeitos sobre os sujeitos são monitorados e analisados e a qualquer sinal de mal funcionamento todo o processo é reiniciado afim de melhorar os aspectos defeituosos da vacina e se já estiver no mercado órgãos como o FDA nos Estados Unidos ou a ANVISA no Brasil são os responsáveis por retirá-la de circulação. Esse foi o caso da Rotashield contra Rotavírus retirada de circulação nos Estados Unidos em 1999 e a vacina pentavalente (contra difteria, coqueluche, HiB, Hepatite B e tétano) foi suspensa pela ANVISA este ano. No caso norte-americano, a vacina foi associada a alterações intestinais sérias em 15 bebês que receberam a vacina. Já a pentavalente, previamente distribuída pelo SUS, 5 lotes com alterações na coloração, na textura e no odor foram recolhidos pelo órgão. Dessa forma, longas e rigorosas pesquisas de desenvolvimento e a atividade fiscalizadora de órgãos como o FDA (nos EUA) ou a ANVISA (no Brasil) garantem a qualidade das vacinas que já estão no mercado.

Mas como as vacinas são produzidas? Para que a vacina seja produzida é preciso ter, em laboratório, o agente causador (etiológico) isolado. A manutenção desses agentes etiológicos é feita pela sua inserção em células vivas, que fornecerão meio para o causador da doença sobreviver. Em alguns métodos, o agente etiológico é mantido em células de embrião de aves, em outros, a manutenção é feita em cultura de células de primatas. Algumas bactérias, ainda, podem ser mantidas em contêineres com ambientes e nutrientes especiais que facilitarão a multiplicação.
Tanto vírus como bactérias possuem um ciclo extremamente curto, por isso, se multiplicam rapidamente e em poucas semanas os pesquisadores podem ter muitas gerações desses seres. Esse fato possibilita o surgimento de cópias com erros (ou clones). Alguns desses clones com defeitos são analisados e aqueles que apresentarem menor poder destrutivo são cultivados para que as suas cópias apresentem cada vez menos poder destrutivo. Esse é um dos processos de atenuação de vírus e bactérias. Essa atenuação ainda pode ser conseguida através do tratamento com calor ou com substâncias como a formalina. Exemplos de vacinas com agente atenuado são as contra sarampo, rubéola e caxumba. Esses últimos dois métodos também podem ser utilizados para a produção de vírus e bactérias inativados. Aqui os exemplos são as contra poliomielite e raiva.

E aquelas vacinas formadas somente por substâncias isoladas de microrganismos? Há duas maneiras que podemos obter tais substâncias. Ou isolamos diretamente do organismo através de um processo de separação ou então inserimos o gene com as instruções de fabricação desse composto em organismos como bactérias ou leveduras, mantidos em meio de cultura propício ao seu crescimento. Tais organismos, ao produzirem suas próprias substâncias, também produzirão, com base nas instruções do gene inserido, a substância de interesse. Quando esta estiver em quantidades adequadas, todo o meio de cultura passará por processos de separação, até que se obtenha ao final do processo o composto desejado.

Mas às vezes, mesmo os agentes causadores presentes nas vacinas não garantem uma resposta adequada do nosso corpo. Então, para realçar essa resposta, algumas substâncias podem ser adicionadas a vacina. Esse é o caso dos sais de alumínio e dos esqualenos. Além disso, todas as vacinas precisam conter conservantes afim de garantir a qualidade, o mais utilizado é o timerosal. E é o uso dessas substâncias nas vacinas que levam algumas pessoas a suspeitarem dos reais benefícios da vacinação. Essa suspeita baseia-se nos possíveis efeitos adversos dessas substâncias.
Esse texto ficou maior do que eu esperava, já que o tema é muito rico, portanto os reais efeitos adversos que os componentes da vacina podem causar ficarão para o próximo momento. Visite a página https://igorrapp.wixsite.com/biolinda e leia mais sobre vacinas. Qualquer crítica, dúvida ou sugestão envie para divulga.rapp@gmail.com. Abraços e até o próximo texto.

SAIBA MAIS

https://www.bio.fiocruz.br/index.php/noticias/1263-vacinas-as-origens-a-importancia-e-os-novos-debates-sobre-seu-uso?showallhttps://portal.fiocruz.br/vacinashttp://www.butantan.gov.br/soros-e-vacinas/vacinas

 

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