domingo, 22 setembro 2024
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Como nossas ações podem nos salvar?

Eu e minha esposa decidimos e compramos um ar-condicionado há uma
semana. Como biólogos relutamos em chegar a esse ato por, pelo menos, 6
anos. Verão após verão, com o calor de Itapira castigando o nosso ânimo, nos
rendemos à ideia de conforto térmico por um simples fato: o calor vai piorar. Essa
constatação nos levou a muitas reflexões que culminaram na decisão de
desembolsar uma grana para o nosso conforto em detrimento ao ambiente. Com
muito trabalho e um tanto de sorte (já que nascemos em famílias minimamente
estruturadas, por exemplo) conseguimos comprar o nosso conforto, mas ficamos
pensando nas pessoas que não podem, ou nos estudantes de escolas (públicas
e particulares) armazenados aos montes em classes minimamente ventiladas
(quiçá termicamente confortáveis). Quais são as soluções? O que estamos
fazendo? E o que poderá ocorrer se não fizermos nada? Esse texto é uma
tentativa de resposta a essas perguntas.
Veja, não estou aqui para escrever sobre o óbvio: precisamos parar de
desmatar e queimar nossas reservas naturais. Florestas e matas tem funções
importantíssimas mantendo o máximo de carbono estocado, regulando
temperatura (quem vive em área arborizada sabe como é) e mantendo doenças
controladas (isso mesmo desmatamento traz riscos de novas pandemias).
Escrever sobre isso já parece não surtir efeito e por isso já estou escrevendo
esse texto como o primeiro manual de sobrevivência. Então preparem-se, por
que o que eu vou mostrar não vai ser bonito nem agradável.
Como eu disse antes, o calor vai piorar. Segundo os estudos consultados,
a previsão é de 1º a 3ºC a mais na média mundial até 2050 e em 2100 chegarmos
a 6,4ºC a mais. Mas como podemos ter certeza desses aumentos? Há várias
instituições e estações que coletam dados meteorológicos tais como: velocidade
de ventos, umidade, taxa de precipitação e temperatura. Essas coletas são feitas
em todos os continentes e oceanos ao redor do mundo. Esses dados podem ser
analisados para observarmos o nosso estado atual e também podem ser
utilizados para criar modelos matemáticos e computacionais para prever o
estado de coisas futuramente. Como são modelos e são utilizados para previsão,
eles possuem uma margem de incerteza, ou seja, não temos certeza sobre qual,
exatamente, será a temperatura daqui 80 anos. Mas todos esses modelos
preveem o aumento da temperatura, nunca a estabilidade ou o resfriamento. Ou
seja, a gente não tem certeza de quanto, mas o calor vai piorar!
Esse calor todo pode não ser sentido de pronto, uma vez que toda essa
energia está, em parte, sendo acumulada nos oceanos. Isso traz um aumento
em suas temperaturas o que acarretará a extinção de várias espécies. Um dos
fatores associados a isso, a elevação das temperaturas levará a um aumento na
acidez dos oceanos e uma diminuição de oxigênio dissolvido. Além disso, esse
aumento nas temperaturas oceânicas eleva a taxa de evaporação de suas águas
acarretando a formação de tempestades maiores e mais frequentes. O clima
ficará muito mais hostil e por isso a nossa arquitetura deverá mudar. A utilização
de materiais mais flexíveis e que suportem ventos com maiores velocidades
devem ser pesquisados. Além disso, métodos para a utilização dos ventos para
a produção de energia pode ser uma aposta. Lembrando que algumas dessas
tempestades poderão ter ventos superiores a 300 km/h. Por isso a pesquisa de
materiais mais leves e resistentes além de formas de construções adaptáveis às
tempestades são bem-vindas.
Além disso, com o aquecimento das águas oceânicas e da atmosfera
veremos o derretimento das calotas polares. Isso vai elevar as águas oceânicas
poucos centímetros em média, mas será o suficiente para inundar as costas dos
continentes. Mas há um algo muito mais importante do que isso escondido sob
metros ou quilômetros de gelo nos pólos. Em 2014, foi encontrada e reativada,
uma espécie de vírus com uma idade estimada em 30 mil anos. Ela foi
encontrada em um local da Sibéria onde o permafrost (camada de gelo
permanente cada vez menor) encolhera. Além disso, numa região de degelo no
Himalaia, foram encontradas 28 espécies desconhecidas de vírus. Felizmente,
nenhuma dessas espécies são consideradas perigosas para humanos, mas
estudiosos já estão em alerta para o perigo de degelarmos alguma doença que
poderá ser uma nova pandemia. Dessa forma, pesquisas no campo da
paleontologia, medicina e microbiologia são indispensáveis para contornar o
possível surgimento de novas pandemias.
Com o clima mais hostil, períodos de secas podem ser mais recorrentes
em algumas partes do globo, levando a um processo de desertificação. Esse
processo pode atingir as regiões Sul e Sudeste do Brasil. Historicamente, essas
são as regiões mais povoadas do nosso país e as que concentram as maiores
áreas de agricultura, abastecendo não só o mercado interno, mas também as
exportações. O impacto pode ser tremendo para as vidas e para a economia
interna. Mas para esse problema temos a solução: a floresta amazônica. Esse
bioma sulamericano produz umidade suficiente para trazer chuva para a região
Sudeste.
Porém, embora algumas pessoas não acreditem nos dados de satélites,
estamos queimando a nossa salvaguarda. Especialistas, com base em imagens
de satélite, afirmam que 20% da Amazônia já foi destruída. Segundo esses
mesmos, se chegarmos em algum ponto entre 30 e 40% de destruição desse
bioma, a floresta não conseguirá se recompor e entrará em colapso e se
transformará em um grande cerrado. Mas como eu disse, destino pior pode
aguardar as regiões Sul e Sudeste.
O aumento da temperatura da Terra pode ter reflexos bastante graves
individualmente também. Há duas semanas atrás, o Instituto Nacional de
Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de risco de morte causado pelo calor
recorde na região Centro-oeste. Essas mortes ocorrem por que nosso organismo
não consegue manter seu equilíbrio se a temperatura interna alcançar 42ºC.
Nesse caso, o organismo entra em coma e pode levar a morte. Um estudo feito
por pesquisadores de 42 países mostra que as mortes dessas circunstâncias
podem aumentar 25% no Brasil. Individualmente, podemos pensar em formas
de nos proteger do calor através de vestimentas claras que refletem a maior
parte dos raios solares e que cubram a maior área do corpo impedindo que o
calor externo seja absorvido. Além disso, políticas públicas que favoreçam a
construção de áreas resfriadas devem a prioridade. Além disso, pesquisas em
arquitetura de novas formas de construção, que aumentem o conforto térmico,
precisam ser estimuladas e financiadas.
Aqui há um resumo de todas as mudanças esperadas a partir do
aquecimento global. Os modelos matemáticos não conseguem saber com
exatidão das temperaturas que serão alcançadas, mas eles dão certeza de que
o calor vai piorar. Em alguns parágrafos fica claro que a pesquisa e a inovação
terão o papel de nos adaptar ao que está vindo. Dessa forma, governo e gestões
públicas que estão tirando o dinheiro de universidades e institutos de pesquisas
estão decretando a impossibilidade de adaptação da região governada, e
colocando essa região em posição de dependência em relação àqueles
governos investidores em pesquisa, o que pode ter consequências graves. Além
disso, governos que estimulam a degradação de biomas podem estar
sentenciando a morte milhares de pessoas seja por calor ou ainda por fome.
Então se você quiser sobreviver a essas mudanças, tente votar em candidatos
que tenham em seu plano de governo ou propostas de legislatura, ações que
possam impactar nesses pontos mostrados aqui nesse texto, não aceite outra
coisa.
Para mais conteúdo sobre biologia e ciência, por favor visite o nosso canal
ou nossa página no facebook: RappBio. Gostou do texto ou que sugerir um tema,
deixa um comentário no nosso twitter: @rappbio. Até o próximo texto.
Saiba mais:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/03/140304_virus_bg
https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/01/24/28-virusdesconhecidos-sao-encontrados-por-cientistas-em-geleiras-no-tibete.ghtml
https://catracalivre.com.br/viagem-livre/antartica-ou-artico-veja-diferencasdesses-extremos-do-planeta/
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/24/internacional/1569334103_514886.ht
ml
https://agencia.fapesp.br/desmatamento-na-amazonia-esta-prestes-a-atingirlimite-irreversivel/27180/
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/brasil-vai-estar-entre-maisafetados-por-mortes-em-ondas-de-calor/

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