sexta-feira, 31 janeiro 2025
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Como se livrar dos vírus?

Desde do início de 2020 estamos em luta com um vírus. É interessante
notar que esse agente infeccioso, mil vezes menor do que qualquer célula
humana, pode causar uma doença tão grave. Durante esse ano inteiro falou-se
muito desse inimigo: como pode ser transportado por gotículas de saliva, como
invade o nosso organismo e as nossas células. Mas dificilmente se vê por aí
algum texto pondo em palavras simples como o SARS-COV2 como se comporta
e como as desinfecções funcionam contra ele. Nesse texto vou tentar explicar
melhor, sobre isso. Utilizando algo do dia-a-dia: máquinas.
A espécie humana é conhecida por ser uma das poucas, nesse planeta,
que consegue projetar, fabricar e utilizar máquinas. Essas por sua vez, tem uma
única missão: facilitar a vida de humanos, realizando um certo trabalho. As
primeiras máquinas – planos inclinados, alavancas, polias- deveriam ser
manuseadas diretamente por seus criadores: com elas ainda tínhamos que “pôr
a mão na massa”. Porém, após o advento da ciência e do início do processo de
industrialização começamos a ser capazes de criar máquinas cada vez
autonômas: máquinas a vapor, carros a combustão, aviões e por fim
computadores e robôs.
Atualmente somos capazes de inserir comandos específicos em
computadores e robôs fazendo-os trabalhar por horas a fio sozinhos e sem
interferência humana. Vírus são como robôs: máquinas com instruções
determinadas que “trabalham” sem a interferência humana. Nos robôs, as
instruções ficam armazenadas no seu processador, nos vírus elas estão
gravadas no seu material genético. Uma vez dentro das células que servirão de
“hotel 5 estrelas”, o vírus começa a desempenhar “suas funções”.
Bem da verdade o vírus tem apenas uma instrução: reprogramar a célula
invadida. Isso começa a ser feito quando os seus genes do invasor é integrado
aos genes da célula hospedeira. Quando concretizado esse passo, a célula
passa a produzir todas as proteínas que compõem o vírus. Além disso, o próprio
material genético viral é multiplicado. Quando o processo está completo, a célula
não possui apenas uma máquina viral, mas milhares dessas máquinas capazes
de invadir outras células. Ao sair da célula invadida, alguns vírus, ainda,
arrancam um pedaço da superfície da vítima, utilizando esse material como
proteção adicional. O SARS-COV2 é um desses que se cobrem com os restos
mortais de suas vítimas, dando ao um vírus uma estrutura mais complexas,
porém tornando-o mais sensível a mudanças no ambiente. Segundo uma revisão
publicada em 2020, a integridade desse vírus suporta ficar em ambientes
externos ao organismo humano por apenas 3 horas.
Embora seja pouco tempo de estabilidade, em ambientes de alta
circulação, como lojas de comércio, consultórios médicos e hospitais, 3 horas é
tempo o suficiente para ocorrer a infecção de pessoas que possam entrar em
contato com superfícies contaminadas. Nessa mesma revisão, notou-se que o
ar em volta de infectados por Covid-19 torna-se altamente contaminado a
distâncias de até 5 metros. No caso de hospitais e consultórios, o problema pode
ser ainda mais grave, uma vez que tais ambientes podem se apresentar
altamente contaminados e frequentado por pessoas com problemas imunitários.
Por isso, a desinfecção desses ambientes é de extrema importância.
Muito tem-se estudado de agentes biocidas e que possam destruir os
vírus. Alguns desses agentes são físicos tais como radiação ultravioleta e altas
temperaturas e agentes químicos tais como compostos de amônio quartenário,
hipoclorito de sódio, cloro (em forma líquida ou gasosa) e ozônio. Os agentes
físicos possuem uma vantagem sobre os químicos: não deixam resíduos, porém
podem deixar pequenas áreas sem a correta desinfecção. Nesse quesito os
agentes químicos, líquidos e gasosos podem ser espalhados facilmente sobre
as superfícies o que pode melhorar os resultados na desinfecção. Contudo, há
um método químico que alia os dois pontos positivos: a utilização de ozônio.
Por ser um gás, o ozônio tem facilidade em se espalhar por toda a área a
ser desinfectada e por ser rapidamente quebrado em duas moléculas de O2
(oxigênio que respiramos) não deixa resíduos no ambiente, sendo, por isso, não
poluente, diferente de outros métodos químicos. O ozônio já é amplamente
utilizado na indústria de alimentos para desinfectar os produtos não deixando
resíduos ou poluentes ambientes. Mas muito têm-se discutido a sua utilização
desse método na realidade pandêmica. A primeira coisa a se saber é se há em
teoria ação.
Teoriza-se que o ozônio por ser um agente fortemente oxidante, ele age
na superfície do SARS-COV2 (lembra aquela cobertura extra?) que é de extrema
importância para a entrada do vírus nas nossas células. Ou seja, na teoria o O3
(ozônio) é capaz de romper a superfície do vírus impedindo sua entrada nas
células humanas. Além disso esse gás pode entrar no vírus e quebrar o material
genético viral. É díficil saber se de fato o mecanismo é esse, porém alguns
estudos desse último ano mostra que é provável que isso se verifique na
realidade.
Em um desses estudos, os pesquisadores contaminaram 5 tipos de
superfícies com o vírus SARS-COV2. Entre esses materiais, estavam tecidos
que compõem roupas e máscaras hospitalares, alumínio e aço inox. Foram
testadas 3 concentrações de O3 por 3 tempos diferentes. As superfícies foram
lavadas para o recolhimento dos vírus e esse material foi utilizado para infectar
células de laboratório. Após isso foi feito o teste de RT-PCR para confirmar a
quantidade de vírus restantes. Os detalhes vocês podem ver nos estudos do
saiba mais. Foi mostrado que a exposição a concentrações de 4 ppm (4 ml de
O3 em 1000 litros de Ar) durante 40 minutos é suficiente para reduzir em 100%
as partículas de vírus inclusive em tecidos. O que mostra que o ozônio pode ser
utilizado para desinfectar, máscaras e EPI’s hospitalares. No entanto deve-se
observar que esses materiais são porosos e podem esconder vírus intactos, o
que pode afetar na eficácia do método.
Resultados muito bons, porém a quantidade de exposição e
concentrações eficazes ainda são discutidas. Todas as leituras analisadas
mostram valores de concentração entre 2 e 30 ppm de O3 durante 10 a 60
minutos de exposição. Respostas muito variáveis, dessa forma é preciso mais
estudos para “acertar os ponteiros” em relação ao regime de tratamento. Mas
em nenhum dos trabalhos analisados mostra-se qualquer sinal de ineficácia do
ozônio, o que mostra que esse agente pode ser utilizado como desinfectante em
determinados ambientes. Mesmo esse método sendo eficaz para desinfecção
de ambientes e superfícies, é necessário ainda a utilização de máscaras e todos
os procedimentos de distanciamento social empregados até aqui para diminuir
os riscos de contágio e de disseminação dessa doença que já nos custou
inúmeras vidas. Toda essa discussão sobre esses métodos só mostra o quanto
já caminhamos com o conhecimento sobre essa doença e o quanto ainda é
necessário para que possamos voltar a condições minimamente normais de
vida.
Saiba mais
E. Percivalle, M. Clerici, I. Cassaniti, E. Vecchio Nepita, P. Marchese, D. Olivati,
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