quinta-feira, 21 novembro 2024
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Covid-19 – Quem será o eleito?

Olá pessoas! Como estão de quarentena? Antes de mais nada… fique em
casa por favor. Peço isso porque ainda somos incapazes de tratar a covid-19.
Incapazes de tratar, mas não de buscar alternativas. Nesse texto vou mostrar
como equipes de cientistas do mundo inteiro estão tentando buscar formas de
combater essa que é uma das maiores ameaças a humanidade dos últimos 20
anos.
Parte dessa ameaça é por que, embora conheçamos outros coronavírus,
o SARS-Cov2 é novo, atingindo de maneira inesperada a segunda maior
economia do mundo. Um fator desconhecido e imprevisível nos apavora, mas
esse é um assunto para um próximo texto. Nesse, vamos focar no
desenvolvimento de um tratamento eficaz e seguro a humanidade contra a
Covid-19. Esse tratamento pode ser uma vacina, uma nova droga ou fármacos
já conhecidos. A escolha deve levar em consideração vários fatores, como
disponibilidade, eficiência, nível de segurança, efeitos colaterais e tempo para o
desenvolvimento.
Antes de mais nada, a intenção desse texto é trazer informação de
qualidade e aproximar de vocês o que de mais avançado está sendo feito nos
centros de pesquisa, não esperem sair desse texto experts no assunto. A
formação de um farmacologista demora anos e esse texto não substitui, de
maneira nenhuma, todos esses anos.
Aqui vocês encontrarão um pequeno resumo das atuais pesquisas na
procura de um tratamento para a Covid-19. Acho importante fazer isso agora,
pois estamos em um momento crítico de descrença e apreensão. Com esse texto
gostaria de apresentar esperanças e mostrar que, apesar de necessitarmos de
precaução, estamos bem e vamos sair dessa. Além disso, gostaria de deixar
claro, que a hidroxicloroquina não é nem de longe o mais eficiente dos
medicamentos testados, fazendo um pouco de contraponto com o que está
sendo veiculado.
Além disso antes de saber sobre a droga, os pesquisadores olham para a
doença e para o seu causador. Analisamos, os sintomas, os efeitos, as formas
de invasão. Esse rastreamento tem uma única intenção: entender para destruir.
Sabendo tudo sobre o nosso inimigo, sabemos toda a extensão dos “seus
poderes”, mas também saberemos as suas falhas e quais podem ser os nossos
alvos. Para quem assistiu World War Z, sabe bem sobre o que estou
escrevendo, para quem não assistiu, fica a dica.
Mas contra o SARS-Cov2, já temos alguns alvos “travados”. Trabalhos
“quentinhos” de revistas científicas mostram dois desses alvos. Para explicar
melhor, prestem atenção no esquema abaixo:

O esquema mostra o ciclo de multiplicação do SARS-Cov2. Para entrar
na célula, o vírus deve utilizar uma chave. Essa chave é chamada Spike, é uma
proteína que se liga a um receptor da membrana da célula e essa interação
garante a entrada do vírus. Dessa forma, entender como as duas proteínas se
ligam é importante, uma vez que podemos criar medicamentos que bloqueiem
essa interação. Uma vez dentro da célula, o vírus deve garantir que as suas
proteínas sejam produzidas e para isso ele possui uma proteína especializada
em edição. Essa proteína editora é chamada Mpro e se entendermos como
exatamente ela faz a edição, saberemos como anular a sua função.
Os trabalhos em questão analisaram a estrutura, como os blocos básicos
dessas proteínas se encaixam e como elas se comportam ligadas a outras proteínas. Todos esses parâmetros foram utilizados para “projetar” modelos
computadorizados. A partir desses dados, um novo fármaco foi desenvolvido e
mostrou o efeito de bloquear a Mpro. Quando células pulmonares infectadas com
SARS-Cov-2 foram colocadas em contato com esse fármaco, houve bloqueio da
replicação do vírus. Os testes ainda estão na fase pré-clínica, ou seja, ainda
deve passar por animais e depois entrar na fase clínica (testes em humanos),
mas são promissores.
Em outro estudo, os pesquisadores utilizaram esses modelos
computadorizados da Spike para produzir sequências de proteínas específicas
que, futuramente, poderão fazer parte do processo de desenvolvimento de
vacinas. Embora esses estudos sejam muito promissores, o desenvolvimento de
um novo fármaco a partir deles pode levar anos. Além disso, nenhum deles traz
dados suficientes sobre eficiência em seres vivos, níveis de segurança na
utilização, quais os efeitos adversos. Por isso, são promessas para daqui a
alguns anos.
Então como podemos acelerar o desenvolvimento? A cloroquina e a
hidroxicloroquina, tão alardeadas como “a salvação”, são a resposta. Ou seja,
utilizar antigos medicamentos, conhecidos e com a sua segurança testada,
reposicionando-os para o combate de novas doenças. Mas para isso, ajustes
devem ser feitos nas doses, uma vez que os agentes infecciosos se comportam
de maneira diferente. Esses dois medicamentos iniciaram os seus serviços na
década de 1940 no combate da malária. São ótimos nesse sentido. É preciso
somente 500 mg por semana durante 4 semanas para que a malária seja
vencida. Mas se administrados em doses altas demais (acima de 250 mg por
dia) podem causar diminuição da acuidade visual e auditiva, além de problemas
no coração.
Os melhores resultados com a hidroxicloroquina foram achados em um
trabalho de uma equipe francesa. Nesse trabalho, a melhora das condições dos
pacientes e a multiplicação do vírus foram monitoradas por 14 dias em um grupo
de 20 infectados tratados com três doses diárias de 200 mg de hidroxicloroquina.
Além de terem recebido mais do que o dobro da máxima dose permitida, o
estudo “escorrega” em outros conceitos. O número de participantes foi muito
pequeno. Para se ter uma ideia, a última fase de descoberta de qualquer novo
fármaco leva em consideração estudos com mais de 10 mil participantes. Além
disso, esses estudos de última fase fazem uso de um mecanismo chamado
duplo-cego. Nesse mecanismo, nem quem dá o tratamento, nem quem é
paciente sabem, ao certo, quem está recebendo, de fato, o novo tratamento. Isso
garante que nem o pesquisador e nem o paciente vão induzir as respostas. Ou
seja, mesmo que os resultados sejam promissores, eles não são exatamente
confiáveis.
E se falarmos sobre como a cloroquina age, ela seria excluída no ato. Isso
por que ela não age sobre o funcionamento do vírus, ela age congestionando e
confundindo o funcionamento de todas as células do corpo. Seria a mesma coisa
que acertar um caramujo com uma bola de demolição. Você até consegue, mas
leva junto tudo que está em torno do pobre animal. Agora você consegue
entender os efeitos colaterais?
Outra aposta é a reutilização de medicamentos que já foram testadas
contra outro vírus. Utilizando uma combinação de dois antivirais utilizados para
o HIV, o lopinavir e o ritonavir, uma equipe chinesa observou que houve a
diminuição de mortalidade e do tempo de UTI de pacientes tratados. Além disso,
as chances de melhora até o 14° dia subiram de 30% para os pacientes não
tratados com a mistura para 45% no grupo que recebeu o tratamento. Contudo,
não foi constatado a diminuição da carga de vírus em comparação com o grupo
sem tratamento. Embora o sucesso seja preliminar, a ideia de diminuir o tempo
de UTI dos pacientes é interessante, sendo a lotação dos hospitais é um dos
problemas mais graves em relação a Covid-19.
Brasileiros da Fiocruz verificaram a chance de utilizar o atazanavir (ATZ)
e o lopinavir (LPV) para o tratamento da Covid-19. Nesse trabalho, os
pesquisadores fizeram a modelagem computacional da Mpro e analisaram como
ocorre a interação entre os medicamentos e a proteína-alvo. Com isso, notaram
que a interação ATZ-Mpro é mais intensa do que a interação LPV-Mpro. Depois,
em experimentos reais, mostraram que a ATZ e a LPV são capazes de inibir a
Mpro (lembra a editora de proteínas?). Após isso, o grupo utilizou células
pulmonares infectadas com SARS-Cov2 para determinar qual formulação era a
mais eficaz. Entre ATZ sozinho, Cloroquina e uma combinação ATZ/LPV,
“ganhou” essa última. Agora os testes devem ser em animais e depois em
humanos.
Os tratamentos aqui enumerados inspiraram uma iniciativa da OMS
chamada SOLIDARITY. Nessa iniciativa, a OMS certificou centros de pesquisa
ao redor do mundo (uma delas é a UNICAMP) para testar em pacientes quatro
propostas de tratamento: 1) Remdesivir, 2)Lopinavir/Ritonavir, 3) Cloroquina e 4)
Hidroxicloroquina. O Instituto de Saúde francês (INSERM) fará um estudo com
3200 pacientes para testar os mesmos fármacos.
Aqui um esquema resumindo os estudos que relatei.

Além de todos esses tratamentos, alguns grupos ainda estão olhando
para a doença. Tais grupos notaram algumas características muito interessantes
da doença. Primeiro, a covid-19 causa uma inflamação generalizada no corpo
inteiro, o que pode levar a morte. Segundo, em grande parte dos pacientes há
coagulação do sangue. Isso pode levar a formação de trombos pulmonares e a
piora do quadro de dificuldade respiratória. Em alguns casos, há a melhora do
quadro do paciente se for utilizado algum anticoagulante ou anti-inflamatórios.
Todos esses são tratamentos são experimentais, não há nada
comprovado. Muitos desses medicamentos são extremamente perigosos se
tomado em doses erradas. Além disso, a determinação de doses eficazes, regime de tratamento adequado e mais estudos são extremamente necessários
para termos certeza.
Outra coisa que poderia acelerar ainda mais o processo de descoberta da
cura são maiores investimentos em pesquisas. Com mais dinheiro, seria possível
a contratação de mais pessoas, a concessão de mais bolsas de estudos para
pesquisadores, e a construção e adequação de centros de pesquisa. Enquanto
isso não ocorre, o melhor mesmo é desacelerar o contágio ficando em casa,
lavando as mãos e quando doentes, isolamento.
Gostou do texto? Compartilhe com quem você conhece. Tem alguma
dúvida ou crítica? Escreva para divulga.rapp@gmail.com. Quer saber mais:
visite o meu canal no youtube: BioRapp.ou ainda o meu site
https://igorrapp.wixsite.com/biolinda.

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