Campanha vai até sexta (22), mas Ministério liberou cidades para ampliar grupos prioritários a partir de segunda; horário de postos dificulta vacinação
Crianças abaixo de 5 anos, que fazem parte do público-alvo da campanha nacional de vacinação contra a gripe, são o grupo com menor índice de imunização, segundo o Ministério da Saúde.
Cerca de 35% ainda não foi vacinada, o que representa 4,4 milhões de crianças.
A campanha de vacinação termina nesta sexta-feira (22), mas o Ministério da Saúde divulgou na terça-feira (19) que, caso ainda disponham de estoque de vacinas, as cidades terão autonomia para continuar com a campanha a partir de segunda-feira (25) com o público-alvo ampliado, abrangendo também crianças de 5 a 9 anos e adultos a partir de 50.
O índice de vacinação infantil da gripe alcançou o nível mais baixo dos últimos anos e está em queda, segundo os especialistas. “Nos últimos anos tem se observado uma redução nas coberturas vacinais, uma queda que vem nos preocupando. Não lembro de um índice de vacinação infantil contra a gripe tão baixo quanto temos hoje”, afirma o pediatra infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Para ele, o fenômeno causa estranheza. “É uma surpresa, ainda não conseguimos entender o porquê”, completa Kfouri, que também é presidente do departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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O pediatra Claudio Barsanti, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), ressalta que a redução da procura por vacinas para crianças se dá também em relação a outras doenças. “Temos observado a diminuição de adesão em várias vacinas, por exemplo contra varicela, a tríplice viral, a tetra viral. Isso pode elevar o risco de emergir doenças que já estão controladas”, explica.
A principal razão da baixa adesão à vacina da gripe pelas crianças seria a falta de percepção dos pais sobre o risco da doença, segundo os especialistas. “O que move, principalmente, uma pessoa a sair de casa para levar o filho para vacinar é a percepção de risco”, afirma Kfouri.
A “avalanche de notícias falsas” sobre os efeitos colaterais da vacina junto à concepção de que a gripe é uma doença “boba” acabam resultando na não-vacinação infantil, segundo Barsanti. “Os pais colocam na balança os riscos e os benefícios da vacina e, como não têm informações adequadas, acabam achando melhor não vacinar, o que é um erro”, afirma. “A vacina não passa gripe, pois é feita com vírus inativado, e a gripe não é uma doença boba, pode matar”, completa.
Este ano, em relação à gripe, 446 pessoas morreram e 2.715 casos foram registrados, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, de 9 de junho. No mesmo período do ano passado, foram 204 mortes e 1.227 casos. Ou seja: as mortes e os casos relacionados à gripe dobraram em comparação com o mesmo período do ano passado.
Horário de postos dificulta vacinação
Os pediatras chamam a atenção para outros fatores que levam a não-vacinação das crianças, como o horário de funcionamento dos postos de saúde, que impossibilita que pais que trabalhem levem seus filhos, e a chamada “pronto-socorrização da pediatria”.
“Devido à crise econômica e falta de convênio médico, os pais evitam os consultórios, tendo a oportunidade de orientação de pediatras apenas em atendimentos no pronto-socorro. Temos um aumento cada vez maior dos atendimentos de rotina em prontos-socorros.
Então, a consulta em que a gente discutiria a importância das vacinas é deixada pra trás”, explica Barsanti.
Outra questão que influencia na baixa adesão vacinal infantil é que o imunizante, de forma geral, se tornou vítima de seu próprio sucesso. “O programa nacional de vacinação infantil levou à erradicação de muitas doenças, então as pessoas não estão mais acostumadas a ouvir sobre determinada doença e não têm interesse em tomar a vacina”, afirma o presidente da SPSP.
“Não vemos mais difteria, tétano, paralisia infantil, entre outras doenças, e os próprios profissionais de saúde acabam recomendando a vacina de maneira menos enfática”, acredita o presidente da Sbim.
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Inverno preocupa Ministério
O Ministério da Saúde demonstrou preocupação em relação à chegada do inverno, que tem início nesta quinta-feira (21), ressaltando ser o período de maior circulação do vírus da gripe no país.
Até o momento, a vacina da gripe é oferecida apenas a grupos prioritários que são crianças de seis meses a 5 anos, idosos acima de 60 anos, gestantes, puérperas, indígenas, profissionais de saúde, pessoas privadas de liberdade, funcionários do sistema prisional, pessoas com comorbidades, como hipertensão, diabetes e transplantados, e professores da rede pública e privada.
A escolha dos grupos prioritários, considerados mais propensos a complicações da gripe, segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A vacina, disponível de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a trivalente, que protege contra três tipos de vírus influenza: H1N1, H3N2 e influenza B.
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O vírus prevalente no país no momento é o H1N1. Do total de mortes e casos no Brasil desde o início do ano, foram registrados 284 mortes e 1.619 casos de H1N1, 87 mortes e 563 casos de H3N2, 30 mortes e 259 casos de influenza B e 45 mortes e 274 casos de influenza A.
Entre 374 pessoas que morreram em decorrência da gripe, 267, o que corresponde a mais de 70%, apresentavam pelo menos um fator de risco para complicação, a maioria adultos maiores de 60 anos com doenças do coração ou de pulmão ou diabetes mellitus.
“Não basta o governo disponibilizar 60 milhões de doses da vacina, é necessário que a população também se interesse em vacinar e perceba o risco de morte por complicações da gripe”, afirmou o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, por meio de comunicado.
Até a última segunda-feira (18), 44,8 milhões de pessoas em todo país havia sido vacinadas, segundo o ministério.
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As crianças de seis meses a cinco anos de idade e as gestantes, um dos grupos prioritários mais vulneráveis à gripe, registram o menor índice de vacinação contra a gripe, com cobertura de apenas 65% e 68,9%, respectivamente.
Já o público com maior cobertura da vacina contra a gripe, é de professores, com 95,1%, seguido pelas puérperas (94,1%), idosos (88,7%) e indígenas (88,5%). Entre os trabalhadores de saúde, a cobertura de vacinação está em 86,8%.
A região Sudeste apresenta a menor cobertura vacinal, com 74%. Em seguida estão as regiões Norte (74%), Sul (83%), Nordeste (86%) e Centro-oeste (95%).
Os Estados com menor cobertura vacinal são Rio de Janeiro e Roraima, com 61% e 56%, respectivamente. Os Estados com melhor cobertura vacinal são Goiás, Amapá, Distrito Federal, Ceará, Espírito Santo e Alagoas.
Fonte: R7 saúde