Olá pessoas!
As vacinas são seguras? Podemos confiar nos efeitos das vacinas? Há alguma morte associada a vacinas? Vacinas causam autismo? Ultimamente, tenho visto inúmeras pessoas se perguntando o real efeito da vacinação das crianças. A indagação faz parte, contudo devemos procurar as melhores informações para a tomada de decisão. E esse é objetivo desse texto: trazer algumas informações úteis para auxiliar na reflexão. Aqui há um resumo de alguns estudos, trazendo resultados de experimentos, ou ainda, estudos históricos envolvendo as vacinas, mas não tenho acesso a toda a informação, por isso você terá que procurar mais. Você, leitor, que tiver dúvidas, sugestões e críticas, por favor, envie um e-mail para divulga.rapp@gmail.com.
Recapitulando: as vacinas são feitas principalmente de agentes infecciosos (ou porções deles) que vão aumentar a nossa resposta de defesa e estimular a produção de anticorpos específicos contra esses agentes. Essa técnica foi primeiramente utilizada por chineses do século VIII que sopravam cascas de feridas de doentes de varíola em pessoas sadias afim de imunizá-las. A partir do séc XVIII com os estudos do médico Edward Jenner, entramos na era moderna das vacinas. Atualmente, muitas vidas já foram salvas pelas vacinas, um exemplo, é a vacina contra sarampo que, segundo a ONU, salvou cerca de 21 milhões de crianças somente entre 2010 e 2017.
Além disso, atualmente, as vacinas, ao lado dos antibióticos, são consideradas os mais importantes avanços da medicina do século XX. Longo caminho de estudos foi necessário para isso. A custos altíssimos de tempo e dinheiro (hoje, no Brasil, gasta-se cerca de 2,5 bilhões de reais ao ano para a produção de vacinas) aprimoramos as técnicas de produção desses medicamentos.
Sim, as vacinas são medicamentos, assim como a aspirina que você toma para dor de cabeça ou o captopril que algumas pessoas precisam tomar para hipertensão. E como eles, as vacinas possuem efeitos adversos que dependem dos seus componentes. “Igor, você disse que as vacinas possuem os agentes infecciosos, tem mais coisas dentro delas?” A resposta é sim.
Vários são os componentes que fazem parte das vacinas e cada um deles tem uma função. Há agentes estabilizadores (sorbitol, gelatina, albumina, entre outros) que possuem a função de manter as condições físicas (cor, turbidez, formação de sólidos, etc) das vacinas. Há antibióticos e conservantes (timerosal, neomicina ou outro antibiótico) que são utilizados para impedir a contaminação, principalmente de frascos de vacinas com doses múltiplas (mais de uma dose). E há os adjuvantes que aumentarão a resposta imunológica da pessoa vacinada contra o agente infeccioso. Aqui temos compostos como óleos (esqualenos) e os compostos de alumínio. Além desses compostos principais, as vacinas possuem pequeníssimas quantidades de substâncias necessárias para o seu desenvolvimento.
Então as vacinas fazem mal? A resposta para essa pergunta é bem complexa mas um bom resumo seria “em raros casos, as vacinas podem fazer mal”. Como eu disse, as vacinas possuem seus efeitos adversos e boa parte deles são causados quando a pessoa vacinada possui alergia pré-existente a algum daqueles componentes lá de cima. Por exemplo, em um estudo antigo (de 2002), é mostrado que as reações alérgicas mais graves minutos após a vacinação ocorrem em pessoas que já possuíam anticorpos anti -gelatina. Porém, tais pessoas voltavam a normalidade depois do tratamento adequado (anti-histamínico e epinefrina). Nesse mesmo estudo outras pessoas, que relataram ter desenvolvido reações alérgicas a vacinas, tinham em seu sangue anticorpos específicos para componentes do ovo. Contudo, as reações alérgicas graves (anafilaxia), segundo o ministério da saúde, ocorrem numa escala de 1,8 a cada 1000 000 vacinados, ou seja, se todos os 210 milhões de brasileiros fossem vacinados de uma vez, aproximadamente 320 pessoas apresentariam essas reações graves. E por isso, segundo o ministério da saúde, as vacinas são contraindicadas para pessoas com alergia grave a algum componente das vacinas.
Numa revisão de estudos publicada em 2009, são mostrados os efeitos adversos de óleos adjuvantes. Segundo os autores dessa revisão, há alguns estudos, em ratos e camundongos, mostrando que a injeção endovenosa (nas veias) de óleos adjuvantes (presentes nas vacinas) podem causar doenças autoimunes, tais como artrite. Contudo, em outra revisão (de 2015), num levantamento de efeitos adversos de vacinações ao longo do séc. XX, não há nenhum relato de doenças autoimunes. Ou seja, não é possível, segundo o que eu pude apurar, saber se os adjuvantes possuem efeitos adversos graves. Contudo, alguns dos efeitos no local da injeção podem ser atribuídos aos adjuvantes por ser tratar de resultados de inflamação local. Entre eles estão, inchaço, vermelhidão dor ou coceira no local da injeção. Além disso, 20% dos bebês vacinados podem desenvolver choro, febre e diarreia, segundo dados do ministério da saúde.
Embora os efeitos aqui relatados não serem de maior gravidade, já houve casos na história em que manifestações graves surgiram em decorrência de vacinação. A Síndrome de Guillain-Barré é uma desordem neurológica que pode causar paralisia (em alguns casos reversível) e em casos mais graves, a morte. Essa síndrome pode ser causada por infecções por vírus. Em 1976, nos EUA, a morte de 53 pessoas devido a complicações neurológicas de uma vacina contra gripe (NÃO É A MESMA QUE USAMOS ATUALMENTE). Não encontrei nenhum estudo brasileiro que mostra casos de Guillain-Barré depois de campanhas de vacinação. Contudo, a maior parte das mortes associadas a vacinação nos EUA, entre 1990 e 1997, era, na verdade, em decorrência de outras complicações, tais como a síndrome da morte súbita em bebês. Ou seja, por vezes associamos a vacinação alguns efeitos que não são devidos. Por isso, muitas vezes médicos podem aconselhar o adiamento da aplicação da vacina, principalmente, quando a pessoa a ser vacinada apresentar sintomas como tosse, rouquidão, febre alta e dor de cabeça. Além dessas contraindicações, as vacinas não são permitidas a pessoas que estejam tomando medicamentos imunossupressores, pessoas com imunodeficiências ou ainda pessoas que estejam com câncer ou leucemias.
E autismo? As vacinas podem causar autismo? Essa pergunta, em parte, é motivada por um estudo lançado em 1996 que associava o aparecimento dos primeiros sintomas de autismos com aplicação das primeiras vacinas. Até hoje, os movimentos anti-vacinas são movidos por esse estudo. Inúmeros estudos posteriores desmentiram os resultados de 1996, porém o medo de causar autismo em suas crianças permaneceu no imaginário de pais no mundo todo. Os resultados desse estudo podem ser explicados, em parte, devido a coincidência. Sim, isso mesmo, coincidência. Isso por quê, assim como as primeiras vacinas são tomadas na primeira infância, o diagnóstico de síndromes do espectro autista é feito, na maior parte dos casos, nessa mesma faixa de idade. O autismo é uma condição que dificulta, principalmente, a socialização do seu portador, além de impactar no funcionamento de algumas estruturas cerebrais.
Em 2015, um grupo de pesquisadores, das Universidades do Texas e de Washington, analisou os possíveis efeitos de vacinas contendo timerosal no desenvolvimento de sintomas semelhantes a autismo em macacos Rhesus. Nesse estudo os macacos jovens foram divididos em seis grupos. Cinco desses grupos receberam regimes diferentes de vacinação (segundo prescrição norte-americana, mas todas elas contendo o conservante timerosal) e um grupo recebeu apenas injeção com soro fisiológico. Seus comportamentos foram analisados, bem como o tamanho e estrutura de algumas regiões cerebrais afetadas no autismo. As análises não mostraram nenhuma modificação comportamental ou na anatomia do cérebro dos macacos que receberam as vacinas em comparação àqueles que receberam somente soro fisiológico. Ou seja, não foi encontrada nenhuma modificação que indicasse autismo nos macacos que receberam a vacinação.
Embora, os estudos mostrem que as vacinas tenham sim efeitos adversos por conta de seus componentes, muita lenda foi criada a cerca desses por vezes atribuindo consequências indevidas às vacinas e por isso deixando a população a mercê de informações errôneas. Além disso, esses mitos criam uma sensação de desamparo, como se o governo não estivesse “nem aí” para os efeitos adversos das vacinas. Uma conclusão totalmente errada, uma vez que esses efeitos adversos são levados a sério, tão a sério que o nosso ministério da saúde possui um sistema de notificação especializado em monitorar qualquer ocorrência devido às vacinas.
Além disso, a vacina, como qualquer outro medicamento, possui contraindicações muito bem definidas, para minimizar ainda mais o aparecimento de efeitos adversos. Tais medidas, além dos altos custos do desenvolvimento desses medicamentos, tornam cada vez mais raros os efeitos adversos graves o que possibilita vacinas cada vez mais seguras. Há efeitos adversos em decorrência das vacinas, porém maior mal ocorre se não houver vacinas.